sábado, 25 de janeiro de 2014

. As vantagens de ser Infinito .

Não sou uma pessoa legitimamente triste. Gosto de alegria, festa, muita gente brindando. Mas, as vezes preciso ser triste, pois a tristeza é o mais próximo da realidade do que somos de fato.
E eu digo, a tristeza é um mal libertador. Ela nos torna mais sinceros sobre nossos monstros e nos despede das armaduras que criamos.
Todos são iguais na dor.
Acho que por mais que eu diga a vocês o que se passa, usando qualquer argumento que seja, jamais entenderão cada gota derramada. É irremediável, intransferível. Cada um conhece seu inferno particular, sua casa dos medos, onde se vê a guilhotina de perto, onde o gosto do fel desce pelas entranhas. 
É na ausência que despertamos o amor. A falta é o sentimento mais imediato e puro que podemos sentir.
A excessiva alegria clandestina nos deixa em estado vegetativo, embabaquecidos, é tão perigoso quanto uma overdose. É um entorpecente, um alucinógeno. Ninguém nunca será completamente alegre e eufórico, pois não suportaria fazê-lo. Somos luz e sombra, sorriso e choro; somos filhos da dualidade. A busca incessante pela totalidade monocromática nos torna loucos, viciados e irracionais. 
As pessoas não estão preparadas para a plenitude, o que nos mantem é a busca. É a estrada que nos faz. 
O que faria se conquistasse todas as coisas? Se fosse o senhor do tempo, se tivesse todas as respostas? O que nos torna vivos é crença, a fé nas coisas invisíveis e a falta de equilíbrio.
Eu repito, as vezes é preciso sentir-se pequeno, vazio; isso é ser honesto no mais intimo das nossas limitações. 
Hoje chorei vendo um dos meus filmes favoritos no mundo (boas pessoas tem filmes favoritos no mundo, acredito); Hoje reaprendi que é preciso mergulhar e reconhecer a si mesmo, só assim poderemos viver momentos sinceramente felizes, os segundos encantados que fazem a vida valer a pena, nesses oásis sentirá parte de um universo vivo.
Somos instantes e em alguns raros momentos, somos INFINITOS.



quinta-feira, 10 de outubro de 2013

• Dual •



"E chegará o dia que chegará a hora de partir.
A vida passará como um filme em sua cabeça.
Ela fechará os olhos e lembrará o quão feliz pôde ser. E lembrará dos lugares que passou, lembrará dos rostos, dos sons, dos cheiros. Sentirá pesar, sentirá saudade. Em segundos adormecerá e encerrará uma passagem memorável, com muito o que contar. Não importa em que lugar, terá consigo todos o que um dia amou."


Estava escrito em algum pedaço de papel em seu apartamento, marcado com tinta vermelha, destacando entre as cartas espalhadas pelo chão. Ela havia quebrado, partiu-se em várias e flutuou num mar de lama.

Lá vai, dançando na linha tênue da extrema tristeza e imensa alegria. Ela é a intensidade do mundo.

Partira sem saber o destino. Saiu pela vida, amassou o próprio pão. Não se sabe se voltará.
Ela, sempre sozinha, cheia de gente dentro de si. 
Toda caos, toda paz. 
Toda amor, toda solidão. 
Morrera pela ultima vez, jurou em vão.
Lá se vai todo aquele furacão de borboletas azuis, vai por aí procurar um novo erro ou simplesmente cultivar os milhares deles que tanto ama. Ela ama cada erro com força e devoção, como se a salvasse de algo e a condenasse à prisão. 

Lá vai a moça com força de homem, que carrega em si as chagas, o fel. A moça que ri, fala alto e brinda noite à dentro. Ninguém conhece seus hemisférios, ninguém a vê por completo. Essa menina, essa mulher, gato e leão. 
Ela é tudo, ela é nada. É correnteza e água parada.
Ela não sabe o que faz, ela faz acontecer. Ela canta, ela medita, ela reza e amaldiçoa.
Não importa, lá vai ela, toda erro, carne e coração.


terça-feira, 26 de março de 2013

. DesapEGO.

O caos sempre dá um jeito de não ser esquecido.
Nesses últimos  meses, minha vida esteve mais bagunçada que a bagunça natural que sempre foi.. uma bagunça externa que me fez parar de pensar, que me obrigou a tomar atitudes, quase que por reflexo.
Esqueci das minhas doenças internas e de limpar os escombros e fui consertar a vida dos outros, nessa coisa louca de tentar deixar todos bem, nessa ânsia de salvar cada coisa viva ao meu redor. Eu gosto de poder participar da vida das pessoas.. mas....
Mas eu tenho estado longe demais de mim. Absorver o problema alheio nunca resolveu os meus. Ficam os processos empoeirados na gaveta, a planta seca por falta d'água. Um dia, giramos a chave e abrimos a porta de novo, o cheiro o mofo, as correspondências antigas, as teias de aranha na mesa, tudo estará lá te esperando chegar, te culpando por tanto tempo passado.
Os problemas não somem, eles dormem e levantam mais fortes.
E eu voltei pro meu quarto empoeirado, voltei pra abrir a janela e as cortinas, deixar a luz do sol adentrar as paredes gélidas e me mostrar cada respingo de lama, cada móvel sujo, cada pedaço de papel picado no chão.
A luz entrou pelas frestas e então eu pude ver o quão sujo estava meu coração. Havia pedaços de nada por todos os lados, pedaços de coisas não resolvidas, pessoas que deveriam ter partido. O renascimento é uma coisa demorada, minuciosa. É preciso queimar, virar cinzas e depois abrir os olhos em um velho-novo-mundo. Nada mudou na minha vida, mas eu fiz minha vida mudar. Eu mudei e lavei a casa toda pra receber novas visitas. 
Foi indolor dessa vez. Na verdade, foi automático, foi esperado, foi quase um parto. Coloquei pra fora tudo aquilo que me sufocava, sem raiva, sem mágoa, sem saudade.
Desapego.
Estou aprendendo a me desapegar do que já pôde ser bom. Meio bom não é bom o suficiente pra te fazer feliz e eu odeio a meia-felicidade.
Eu quero tudo ou nada, quero mão entrelaçada ou cara virada. Essa coisa toda de ser meio, partiu as coisas em pedaços desiguais e reduziu tudo à pó. E poeira a gente limpa, não guarda de recordação.
Carta de Alforria. Dias melhores pra sempre!
Eu pari cada lembrança abstrata da minha projeção no outro. Agora estou aqui, encerrando mais um capítulo. Não estou virando a página, estou começando um outro livro.
Desejo a vocês uma grande dose de desapego. 
Se doer, passa, cicatriza e vira marca de guerra. Se não doer, é porque já havia doído até o ultimo suspiro.
Sou feita de sonhos e medos e não deixo em meu caminho nada que possa me parar.
DesapEGO. Sempre somos os nossos melhores amigos e amantes. Não há dor que não possamos combater. Não há desafio que não possamos completar, não há má fase que dure mais que possamos suportar.

Tem uma dose extra de força no meu peito e isso não me deixa falhar.
Meu santo é forte, é quente, perdoa mas não esquece.
Que não me venham com tristeza, eu to no baile pra dançar.




Se eu estou feliz?
EU SOU FELIZ e felicidade é só questão de ser. 


quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

• Só O Fim •

Claro que o assunto é: O FIM.


Sinceramente, não sei lidar com essa coisa de fim, seja fim do mundo, das pessoas, dos ciclos. Dá uma sensação de que nunca mais terei algo parecido e que nunca terei feito o que era pra ser feito.
Na verdade, nunca estaremos completos e isso é uma certeza que adquiri na base da dor, do desespero e das tantas noites em claro, com o peito vazio e a cabeça repleta de lacunas. 
Eu temo o pós fim, temo do que é feito quando algo acaba.. as coisas acabam mas fica sempre o rastro do que já existiu. Fica sempre o gosto amargo do que já foi vivo. Lembrar dói tanto quanto viver.
Não sei me desprender de lembranças e seguir em frente, por mais que a vida não pare, ali, em algum canto da minha memória traiçoeiramente suicida, bate um vento com o cheiro do que passou.
Sempre sobrevivo, mas sempre perco muito sangue, há quem já tenha levado um braço, um órgão consigo ao sair pela porta, há quem tenha batido a porta e trancado, há quem tenha deixado a porta aberta.
Não sei encerrar, prolongo sempre o fim por não saber lidar com esse perda.. mesmo que encerrar muitas vezes seja bom, pra renovar e dar espaço a novos caminhos, fica aquela gélida sensação de arrependimento. Não acredito em quem diz que não se arrepende de nada, eu digo, vivemos num constante arrependimento, seja por fazer ou por deixar de fazer, mas somos orgulhosos demais pra deixar a verdade transparecer, não é?
Pecamos por medo de mostrar quem somos, por medo de dizer que na verdade, nosso "foda-se" não está ligado e que sofremos com a partida das pessoas. Temos medo de tirar a máscara de super herói e dizer que somos humanamente fracassados. Herói do mundo, vilão de si próprio.
Complicamos o que já é complicado por natureza. Não acredito que é amar é simples, pois se fosse, alguém não teria morrido pra mostrar isso pra todo mundo. Amar é a forma mais poética de suicídio. Amar é esquecer muitas vezes da cor preferida e lembrar cada gosto do outro. Acredito que pouca gente tem o dom de amar sem querer ver seu ego inflado, seletos humanos possuem essa capacidade de livrar-se das próprias amarras apenas para salvar o outro. Na maior parte, amamos o que somos com o outro, o que projetamos e refletimos na outra pessoa. Vejo tanta gente querendo codificar todo mundo, como se fosse via de regra pra manter algum laço afetivo, o que vai muito além do relacionamento homem-mulher. 
Nós sabotamos e sabotamos os outros, manipulamos, maldosamente ou não. 
Acho que precisamos de uma reciclagem interna, rever nossos atos sem o tal moralismo instalado. Fazer uma reengenharia do que somos, pesar os lucros e prejuízos que temos e causamos, cortar gastos desnecessários, sentimentos desnecessários, relacionamentos desnecessários. Limpar os escombros e reestruturar o que foi útil. 
Se essa mudança será pessoal, cada um no seu tempo ou em massa, não sabemos.. mas sinto uma energia de mudança nos últimos tempos.
Tememos o novo, o desconhecido, pelo fato de não termos o domínio. Temos necessidade de dominar todas as coisas, por não ter capacidade de dominar a nós mesmos.
Que venha a tal nova era, os seres de luz, a humanidade consciente. Que seja amanhã ou depois ou daqui mil anos, mas que os ares sejam renovados e que a sensação de caos e medo seja invadida por esperança de dias melhores, pra sempre.

Pra quem acredita, que seja apenas o fim de um ciclo e o início de um novo tempo.
Pra quem não acredita, comemorem depois de amanhã.
Pra todos nós, vamos aproveitar o dia, seja o último ou não.


Com carinho,
Jess.


(Sugestão de música pra hoje: Avenged Sevenfold - Seize the Day http://www.youtube.com/watch?v=S3WRQv4H1kQ)


sexta-feira, 19 de outubro de 2012

• Claustrofobia •

Claustrofobia.

S.f. Medo mórbido dos espaços pequenos e fechados.

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Tenho medo da sensação de estar presa, paralisada. É o tal desespero que sufoca, que me faz perder a noção do tempo e lugar. Eu tenho medo da inércia. 
A inércia me corrói, faz com que eu tome atitudes que conscientemente não tomaria, ou pelo menos, repensaria. Não gosto de ver a vida na constante calmaria, se está vivo, tem que mexer. 
Não sou como a superfície de um lago, plano, sereno. Eu sou o mar, as ondas quebrando na praia, o rebento e o caos submerso nas águas.
Como lidar com o medo de envelhecer e perder a elasticidade da sobrevivência? Como lidar com o medo de não ser mais fagulha? Como lidar com o peso que a vida impõe, com cartas e lugares marcados?
Talvez eu esteja me sabotando, a ponto de me negar aceitar que o que já foi fogo, será cinza.
Eu sei, não quero ser cinza.. mas quanto vale o meu querer? A vida morna me cansa. Pra mim, ou queima ou gela.
Não quero me tratar mal e fazer com que as feridas não fechem, não quero fazer do meu circo, Via Crucis. Só não posso fazer de tudo, uma valsa. Minhas veias pulsam, rasgam minha pele e a paz nunca vem.
Eu digo, pensar demais faz com que a paz nunca venha. Não nos satisfazemos, sempre há um crime pra desvendar, uma terra pra descobrir ou uma teoria pra imaginar. E somos nós, claustrofóbicos, que nos reconhecemos na multidão. Os olhares batem, os gostos correspondem e respiramos mais aliviados então.
Eu sinto o cheiro do medo de ser sufocado. LATEJA, DÓI, SANGRA alma.
Eu quero a liberdade e o que o mundo puder me dar, mas não confundam com solidão.
Podemos estar livremente acompanhados também. Quero dividir cada espasmo, cada sensação. Ser livre e sozinho é uma situação ingrata. Do que adianta ter ouro e não poder usar? Liberdade é querer alguém por perto, sem que seja pedido por obrigação. 
Odeio a máxima "você TEM que fazer!" Não, não tenho, faço por que escolho fazer.
Até mesmo nos lugares regrados, a opção de seguir a lei ou não é nossa, juntamente com as consequências.
O primordial é, cabe a MIM decidir. O caminho é meu.
Cada um tem seu próprio inferno e paraíso. Nascemos ímpares, vivemos (ou não) em pares e morremos ímpares. É assim que as coisas são.
Eu quero ter a liberdade de viver sem medo do julgamento alheio, sem ter que me explicar umas 700 vezes. Demoro a encerrar um ciclo, mas quando o faço, enterro com ele qualquer possibilidade, sendo real ou não. É assim que eu sou.
E a vida é assim. E nós somos assim. E as pessoas são assim.
Só quero liberdade pra ser quem eu sou e pagar por isso no final. 

Não mascare seus sonhos, seu jeito e suas vontades. Não projete no outro seus erros. 
Seja seu próprio herói.



Seja. Aja. Faça. Pague.
A vida não espera a gente secar o cabelo, fazer maquiagem, coordenar brinco com sapato, sapato com bolsa, bolsa com anel. A vida exige que a gente aconteça. Que a gente se jogue na chuva e estrague a chapinha, que o esmalte descasque e a gente ache graça. A vida exige que a gente brinque de passar bolo na cara.
Perdemos tempo tentando agradar ao vizinho e esquecemos de nos agradar. 
Já viveu pra você hoje? Já fez um gesto de amor pra si mesmo? 
Já sorriu enquanto queria chorar, só para manter a pose? Pra não acharem feio?
Já comprou algo pra você? Já ouvir palavras duras sem merecer?
Temos que nos concentrar em fazer o bem a nós, para que possamos ter a capacidade de fazer o bem ao outro. 
"Não liga, ele é grosso assim mesmo.." Ligue sim, esbraveje! Você é obrigado a se podar e guardar na gaveta toda vez que não dá o murro que um babaca merece ou manda a perua esnobe se ferrar. Ninguém é obrigado a tolerar desrespeito pelo fato do outro "ser assim". Ninguém nos pergunta o que somos e o que precisamos para viver bem.
A vadia que te traiu não pediu permissão pra te machucar e te fazer desistir de se relacionar.
O escroto do seu chefe não pediu permissão para te menosprezar e reduzir sua motivação pela metade.
O crítico maldito não pediu permissão pra te crucificar pelo fato de ser mais criativo que ele e assim, massacrar seus sonhos.

Não dê permissão para te minimizarem. Quem não consegue conviver com o que você é, sem tentar te modificar a todo custo, jamais te fará feliz por completo.

Seja forte e honesto consigo, o resto vem.






sexta-feira, 20 de julho de 2012

• INSIDE •



Eu sei, eu me saboto, me entrego ao abismo, apenas para sentir o vento no cabelo. 
Sou fatalmente viva, cada dia quase caio, quase morro, quase sangro.. as vezes acontece. Há um animal enjaulado aqui, que luta com a força que lhe resta, que se debate, que não se rende. Há uma menina cansada e com poucos amigos, que um dia se contenta com a falta de escolha e aceita o que foi dado, o que lhe foi vendido à força.
Há dualidade, luta sem medalha. Há soco e ponta pé.
Aqui jaz todo engano e as vezes eu gosto disso.
Minha vida é feita de curativos e cicatrizes, já conheço a dor e sei o quanto é bom quando passa.. eu me arrasto pelo corredor, procurando um lugar mais calmo pra respirar, eu trago a fumaça e sinto meu corpo arrepiando com suas sensações. Observo o teto branco, vazio, penso em tudo ao meu redor e sinto o peso dos meus dedos, inertes, esperando uma mão pra entrelaçar. 
No meu mundo, na minha cabeça, nas minhas veias.. eu sei o quanto dói não saber lidar. Eu não sei, tenho medo de ser feliz e depois acordar despedaçada, mas eu vou, sempre voou. Esbarro em erros e acertos, ultrapasso o limite, bato e apanho na cara. A puta, a bruta, a vítima e a carrasca. Sou a vaca profana e a ultima esperança. Salvo e mato lentamente. Tenho veneno e antídoto, tenho cura e mal, tenho o que precisar. Enfio a adaga e giro lentamente. Dói, mas passa. 
Não espero que me entendam, nem que me aprovem, exijo que me respeitem, quem quiser mastiga, degusta.. quem não puder, que engula a seco. Pra mim é assim, ou me ama ou me mantem longe. 
Se for amor, que seja dos pés a cabeça, que tenha paixão, doação.. pelo tempo que for possível.
Eu odeio o morno, o insosso, o incolor. Se é pra me levar, que me carregue, que entre e bagunce tudo, que quebre as regras e os horários, que me faça dormir tarde e me tire da cama com um convite à loucura.
Que tenha fogo, que seja meu dono e que me faça calar.
Preciso que me calem a boca, que me obriguem a escutar. Que me prenda, que me chacoalhe. Quero furação, cansei de ventania. Quero tempestade, cansei de calmaria.
Venha e abra a janela do meu quarto, deixa o sol me cegar e franzir minha testa.
Se for pra ficar, que mostre o porque, que seja minha unica opção.
Que me faça pedir mais, que me faça gemer, suspirar, perder o controle. Que me deixe sem ar, sem graça, sem fala.
Venha e me mostre o que tem de melhor, me surpreenda, me amordace, me enlouqueça. 
Eu quero tudo, quero que vá a fundo e faça o que ninguém fez. No final, me beije e acenda nosso cigarro.
É só isso, é simples. 
Troca de corpo comigo, entra na minha mente e sente o que eu sinto.

terça-feira, 19 de junho de 2012

. Livro do Esquecimento - Parte I .

Acordei totalmente introspectiva hoje. Partindo do principio que tenho uma introspecção nata, carga dada por um signo melancólico e saudosista, é relativamente natural me sentir na contramão.
Dias cinzas agitam as coisas dentro de mim, proporcionalmente, são os que mais amo.
Gosto do que está vivo, quente, mexendo... por mais contraditório que possa soar.
(Acho que não é necessário reafirmar o quanto sou contraditória e caótica.) 
Hoje acordei com saudade do que eu pude ser quando criança, do quanto a vida me parecia doce e sutil, de como eu não me conformava com os horários estabelecidos pelos meus pais, com as regras de idade pra ver filmes (mesmo que eu sempre arrumasse um jeito de burlar as leis adultas). Acordei com saudade de mim, dos que passaram, dos que eram indispensáveis e que daria a vida ou o dente em uma briga, apenas para tê-los por perto.
Quando somos crianças, tudo é muito imediato, intenso.. e parece que a medida que crescemos, transformamos a energia que temos em reclamação, as necessidades sadias em constante infelicidade por não tê-las, a intensidade se perde no caminho e sentimos a vida amargar, emudecer. Os gritos são internos e nos encontramos sempre com a sensação de que estamos vazios, incompletos.
Por onde anda nossa jovialidade? Os sonhos e a vontade de mudar as coisas?
As vezes eu sinto como se tudo que lutei fosse se perder no ar, como se pudessem formatar meus pensamentos e apagar de minhas as cicatrizes de tudo que vivi. Eu tenho medo.
Temo pelos que se foram, pelos corações partidos e pelas lembranças abaladas pelo tempo. Eu não quero esquecer de tudo que me fez chegar até aqui e ser o que eu sou.
Eu amo tanto os meus fracassos quando os meus acertos, eles fazem parte de mim. 
Olho pra trás e vejo como eu errei e erraram comigo e agradeço por cada lágrima, por cada vez que pensei "o que eu faço da minha vida agora?" ou "como puderam fazer isso comigo?". Eu sou um acúmulo de sensações erradas, de projetos falhos e de um amor imensurável pelo desconhecido. Simplesmente vou.
Quando eu era criança e algo não dava certo, ouvia alguma musica que gostasse e pensava em dormir, porque tinha certeza que quando eu acordasse, tudo estaria melhor. Normalmente estava, porque eu tinha fé e nada me fazia acreditar o contrário.
Ontem eu tentei fazer isso, o primeiro obstáculo foi: eu não tinha tempo pra dormir aquela hora. O telefone tocou, clientes no trabalho, e-mails chegando. Eu precisava estar no meu quarto ou em algum colo macio, mas a vida tem sido mais complicada, o tempo não tem mais o mesmo peso que há 10 anos atrás.. era só correr e pronto, eu chegava num lugar comum e meu coração se aquietava lentamente, até esquecer.
Tenho dado prioridade demais aos outros, ao que não é meu e tenho me renegado pelo menos 3 vezes ao dia.
Me sinto como Pedro negando Jesus. "Não, eu não conheço", "não sei quem é", "não estou com ela". 
E as vezes, sou um tanto Judas e com um beijo traidor me entrego pro inimigo. O tempo.
Fé.
Acho mesmo que perdi a fé nas pessoas que admirava, que ando gostando mais de bicho, música, recordações. Tudo pra não deixar de acreditar na vida. Mesmo que não seja nas pessoas, eu preciso acreditar em alguma coisa.
Eu sei que em algum canto do mundo, alguém sente a mesma coisa que eu e me entende. Isso basta agora, saber que por mais que eu me afaste, não estou sozinha. Há uma interligação entre nós.
Também tenho medo de que esqueçam quem eu sou.
Meu maior medo é o esquecimento.
Hoje vou lembrar de como era gostoso ter o mundo todo pra descobrir e acreditar que ainda dá tempo de reinventar nossa própria história. Por isso escrevo, pra salvar, matar ou morrer.
Botar pra fora e trazer pra dentro o que falta.
Assim cruzamos olhares, caminhos, parágrafos. Perdemos, achamos, ganhamos, enganamos.

Se um dia eu voltar a ser criança, venho correndo contar pra vocês.