quarta-feira, 16 de março de 2011

• The Future is Dead •

Começou faz tempo, o tempo faz tudo desfazer, eis que vira pó.
A vida, a rotina, as bagagens, os timbres, tudo se vai.
Estamos aqui, agora. O acelerar dos ponteiros pode nos colocar pra fora do tabuleiro.

Esvaziando, petrificando.
Acordar cansa, respeirar cansa, pensar dói.
Estamos doentes, alma, matéria, pensamento. Sinto em mim todas as dores do mundo, sinto o inferno dos outros, o meu próprio inferno.
Sinto a Via Crucis de cada criança largada na calçada, de cada pessoa à espera de um milagre, de cada filho de Cristo, implorando pão, de cada pagão tentando não suplicar perdão de Deus, por medo do Diabo.
Eu sinto, cada célula do meu corpo absorve a fumaça e a poeira de viver.

E sufoca.
Dói, não sei por onde.
Sinto falta, de Deus, de paz, dos meus pais me pegando pela mão.
Estamos livremente presos nisso tudo.
Liberdade clandestina essa, que nos obriga a sobreviver pra comer, sem comer pra sobreviver.
Liberdade que nos prende em cada centavo, milímetro, formatação.

Eu disse, dói.
Morrer que é fácil, tudo de uma vez.
Ver os sonhos virarem poesia e só, isso sim é tortura.
E se não fosse a poesia, uma bala, um dose errada. Facilidade.

Que me reste de tudo, o que julgo AMOR.
Que me reste o sorriso de alguma criança, mesmo que adulta.
Que me reste a saudade do que foi bom, o amor inacabado.
Que me reste a imagem de um homem bom, justo.
Que venha a maldade e sua foice afiada.
Que venha a onda, o abalo, a radioatividade.
Que venha a falta de mãe, de paixão, a falta de dom.

Aqui estarei para lembra que, mesmo com toda a escuridão, escrever salva.
Caos no papel, na tela, na mão.
Cada palavra me acrescenta um minuto de vida, mesmo que seja para ver a destruição.


Irremediavelmente apaixonada pela vida, em toda sua espécie.