Tudo tem estado assim, estranho.
É como se eu não pudesse reconhecer mais eu em mim.
É como se eu houvesse perdido minha essência e não falasse mais comigo no espelho.
Tenho estado assim, estranha à mim.
Não acredito mais em nada, tal vunerabilidade me faz frágil a ponto de acreditar em tudo que me dizem.
E contradito, faço, refaço e não desato os nós em mim.
Essa coisa toda me sufocando, o relógio, os pés cansados, o olho marejado, as filas, o barulho alheio que ensurdece meu silêncio. Tenho estado em silêncio para não falar demais.
Na verdade, perdi a vontade de falar, de mostrar meu caminho para que outros andem por ele.
Não quero receber visita, não quero arrumar a bagunça, não quero mostrar meu canto.
Só quero que alguém entre sem bater, que me procure no meio das roupas jogadas no chão, que me ache e me diga onde estou.
Cansei de fazer manual de instrução pra ninguém usar.
Nos meus 10 mandamentos não há nada além de "entre e me mostre o que é viver." 10 vezes, escrito na pedra, na terra, na testa.
Não quero mais viver minha vida em conta-gotas. Quero minha liberdade, minha vontade de mudar o mundo, meu discurso sobre extraterrestres e o amor.. É, o amor.
Não me falta amor, me falta o cuidado.
Me falta uma ligação de madrugada, um beijo roubado, me falta atenção sem pedido.
Me faltam os de sempre e os novos.
Sinto falta de mim.
Sinto falta do que eu era.
Quero mergulho em águas desconhecidas, quero queda-livre, quero vento sem direção.
Estou pedindo um resgate, um milagre, um bote salva-vidas, um porto, um cais ou apenas um farol que me mostre por onde andar.