segunda-feira, 9 de maio de 2011

• A Dama do Vento •

Certa vez, uma menina disse que eu era um anjo caído, ela me fez acreditar que troquei asas por pedaço de carne. Ela me fez sonhar, ganhar um codinome, ser desconjurada, sentir o inferno arder no peito, fez das penas do seu travesseiro o que outrora perdi.

Uma moça de lábios largos, sem cadarços no sapato, com lápis nos olhos e pouca bagagem.
Uma menina, um pouco feiticeira, um pouco donzela, sereia, monstro do lago, que me pegou na esquina do improviso, que aproveitou do meu sorriso para adentrar meu espaço.
Ela chegou e pôs os pés na mesa, quebrou as regras, deixou-me sem ar. Veio como uma brisa, refrescou-me o rosto e fez chover onde era deserto.
Essa mulher, moça, menina.. essa anciã que tanto me ensina a cada segredo seu.
Era eu, era ela, era sopro de dragão em plena primavera.
Era abraço de urso, era toque de fada, essa moça singela, cheia de amarras.
Um dia me disseram e foi com olhos de rejeição, que por mais que eu quisesse, ela nunca seria uma parte de mim, não falaram da boca pra fora, disseram em silêncio que morrerei pouco a pouco, que cada beijo seria o esboço da tempestade a enfrentar.
Eu não acreditei, sempre tão cheia de confiança, quis entrar nessa dança sem ao menos ter um par. E dancei, tenho dançado cada passo como se o próximo ato fosse simplesmente o chão.
E caio, me arrebento, fico esperando um novo vento que me dê a direção.

Estarei aqui, quando não puder voar sozinha, menina. Estarei em cada letra do teu vocabulário, em cada devaneio dos seus braços, estarei em seu quarto, pronta para afastar de ti os medos da noite.
E se um dia, não puder ganhar-te em um sorriso, que não me venha o paraíso e seus seres celestiais.
Parece um soneto de despedida, ouça, meu amor, a canção de partida.
Dama do Vento, diz que foi apenas o tempo, esse velho doido, que te soprou daqui e ele a trará de volta, para me assustar ao bater a porta, esteja aqui, a zunir em meus ouvidos que jamais me esquecerá.



(Não se assuste, minha tendência ao egoísmo louco está apenas começando, não desisto fácil, não te deixarei à espera de outro rumo, moças como você são como borboletas, vivem e se deixam viver apenas por 24 horas. Renascem, cheia de vida, para morrer ao fechar os olhos, um dia por vez).

2 comentários:

  1. Linda Jess, seu texto enche-me de sentimentos bons e por instantes, fez-me perder o ar... (Márcia Ganso)

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  2. É sempre bom saber que tem texto novo por aqui... muito bom, como sempre!
    Abraço

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